A ausência da governadora Raquel Lyra (PSD) na agenda do presidente Lula, nesta quinta-feira em Pernambuco, soou mais alta que qualquer discurso. Foi, na prática, um gesto calculado de distanciamento político e, para quem acompanha os bastidores, um recado direto ao Planalto.
Depois de meses de acenos, gestos cordiais e uma aparente aproximação, a governadora parece ter chegado ao limite diante da postura de Lula em favor de adversários locais. As frustrações se acumulam: o Planalto teria retardado liberações de recursos do PAC, além de promover quebras de protocolo em eventos para reduzir o protagonismo de Raquel. De outro lado, Lula pode ter esperado da governadora um alinhamento mais explícito, quem sabe até uma declaração de voto antecipada para 2026. Não veio.
Ao optar por cumprir agenda no Sertão em vez de “bater palmas” para o presidente, Raquel se posiciona mais ao centro e envia sinais ao eleitorado: dificilmente apoiará um candidato ungido por Lula. Com isso, abre-se a possibilidade de Pernambuco se tornar um palanque para nomes como Ratinho Júnior (PSD) ou Tarcísio de Freitas (Republicanos) no próximo pleito.
Para não deixar o gesto soar como rompimento total, a governadora escalou a vice, Priscila Krause, para recepcionar Lula e acompanhar a primeira-dama Janja da Silva no litoral norte. Foi uma solução protocolar, mas longe de ser afetuosa.
Na comitiva presidencial, destaque para o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que retornou de Brasília após a sessão solene que marcou os 20 anos da morte de Miguel Arraes. Campos e Lula, ao que tudo indica, terão tempo no voo para afinar conversas — e, possivelmente, alinhavar estratégias que podem reposicionar o xadrez eleitoral no estado.
No tabuleiro de 2026, cada ausência pesa. E a de Raquel, desta vez, foi de tonelada.
