Embora a Líbia tenha enfrentado inundações em 2019, que resultaram em quatro mortes e afetaram dezenas de milhares de pessoas, a atual escala da tragédia é sem precedentes para o país. A cidade de Derna, a mais afetada, continua com cerca de 6 mil pessoas desaparecidas, conforme relatou Othman Abduljalil, ministro da Saúde do governo apoiado pelo parlamento oriental da Líbia. Ele descreveu a situação como “catastrófica” e classificou a cidade como uma “cidade fantasma”.
Há indícios de que bairros inteiros tenham sido devastados em Derna, com corpos ainda encontrados em diversos locais, relatou Abduljalil à TV local. Os hospitais da cidade não estão mais operando, e os necrotérios estão sobrecarregados, com cadáveres deixados nas calçadas do lado de fora.
Parentes de pessoas que viviam em Derna expressaram sua angústia pela falta de contato com seus entes queridos desde o início da tempestade. Ayah, uma mulher palestina, está preocupada com seus primos na cidade e disse: “Estamos todos apavorados”. Emad Milad, morador de Tobruk, perdeu oito parentes nas enchentes e descreveu a situação como um “desastre”.
As chuvas, que atingiram várias cidades do nordeste da Líbia, resultaram de um sistema de baixa pressão que causou inundações catastróficas na Grécia na semana anterior e posteriormente se transformou em um ciclone tropical no Mediterrâneo. Esse evento ocorre em um ano de desastres climáticos sem precedentes e temperaturas extremas, que têm quebrado recordes em todo o mundo.
O aumento das temperaturas dos oceanos devido à poluição e ao aquecimento global tem contribuído para a intensificação de tempestades como essa, de acordo com cientistas. No caso do Mediterrâneo, a temperatura da água está bem acima da média, o que potencializa a força das chuvas.
A vulnerabilidade da Líbia a eventos meteorológicos extremos é agravada pelo conflito político de longa data no país, que dura mais de uma década. A nação de seis milhões de habitantes está dividida entre facções em conflito desde 2014, após a revolta de 2011 apoiada pela OTAN contra Muammar Gadhafi. Essa complexa situação política representa desafios adicionais para a gestão de desastres e resgate de vítimas.
O colapso das barragens, que levou à inundação de Derna, causou danos catastróficos à cidade, destruindo pontes e arrastando casas inteiras para o mar. A falta de comunicação devido à queda das linhas telefônicas e a grande destruição dificultaram os esforços de resgate.
As autoridades reconhecem que as condições meteorológicas não foram adequadamente estudadas e que não houve evacuação preventiva das áreas afetadas. Agora, a Líbia enfrenta a árdua tarefa de lidar com uma tragédia sem precedentes e de buscar soluções para enfrentar futuros desafios climáticos e políticos em um país já fragilizado.