Morre no Recife o ex-prefeito de Arcoverde, Giovanni Porto

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Faleceu na noite de ontem, por volta das 20h, no Hospital Português, em Recife, aos 88 anos de idade, o ex-prefeito de Arcoverde, Giovanni Rodrigues Porto, que governou a Capital do Sertão entre os anos de 1969 e 1973, em plena ditadura militar imposta no País. Seu enterro será no cemitério Morada da Paz, às 14h, no Recife. Em relato na sua rede social, o filho, Marlos Porto, relata a história do pai que o inspirou no mundo da política. Aqui transcrevemos a mensagem:

Por Marlos Porto

É com pesar que comunico aos amigos o falecimento de meu pai, Giovanni Porto.

Segundo informações repassadas a mim hoje pela manhã, por telefone, por uma de suas filhas, que é médica e o acompanhou em seus momentos finais, o falecimento ocorreu ontem, 06/05/2021, às 20:00h, no Hospital Português, em Recife, e o enterro do corpo será no Cemitério Morada da Paz, às 14h.

Desde outubro do ano passado, quando se submeteu a uma cirurgia abdominal de urgência, sua saúde não se restabeleceu plenamente. Encontrava-se novamente internado desde o dia 1º/04/2021.

Nascido em 15/10/1933, em Arcoverde/PE, e criado em meio racionalista cristão, Giovanni, em meio à dicotomia moderna entre o materialismo desbragado e o espiritualismo transcendente, era inequivocamente um espiritualista, embora jamais se submetesse a dogmas que tolhessem a sua razão e o fizessem abdicar de questionar, fosse o que fosse.

Algo contudo, era pacífico e inquestionável para ele: a existência de Deus. A sua convicção na existência de uma Força Criadora, um Ser Eterno, que é Bem, Justiça, Amor, Ordem e Perfeição, era inabalável e inspiradora, irradiando para todos à sua volta, por meio de sua própria vida e dos seus exemplos imorredouros de integridade, honestidade e valor.

Filho de comunista, foi eleito vice-prefeito de Arcoverde em 1963 e cassado em 1964, tendo sido preso na ocasião do famigerado golpe. Solto, entrou com mandado de segurança para reaver o mandato, o que conseguiu em sede de recurso, no TJPE. Jamais desacreditou da Justiça.

Foi professor de História de gerações de arcoverdenses, carinhosamente conhecido como o “Professor Giovanni”.

Eleito prefeito no ano de 1968, na que ficou conhecida como a “Campanha das Rosas”, Giovanni Porto, exímio orador (ao qual, segundo diziam, somente Cid Sampaio poderia ser comparado, dentre os políticos de Pernambuco), foi o prefeito mais honesto da história de Arcoverde – e quiçá do Brasil.

Em sua gestão, foi construído o novo Matadouro Público, operando em perfeitas condições de higiene; foram construídas as “supergalerias”, que acabaram com os alagamentos que havia na época; trouxe o asfalto para Arcoverde, da antiga Rádio Cardeal até a rodovia federal, onde antes só havia a poeira (impulsionando decisivamente, assim, o desenvolvimento do bairro do São Cristóvão), entre outras realizações.

Duas iniciativas no campo da educação, contudo, conferem maior destaque ainda à sua gestão: a idealização e a construção do Centro de Cultura e a assinatura da lei que criou a Faculdade de Formação de Professores, que viria a ser a futura AESA – Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde.

Sua esposa, então professora, ia a pé dar aulas em escola que ficava na Vila Popular, pois Giovanni jamais utilizou o carro oficial para lhe dar caronas. No final do mandato, iniciou o curso de Direito em Caruaru, deslocando-se de ônibus, pagando as passagens às suas próprias expensas, sem jamais onerar os cofres públicos. Deixou a prefeitura com as finanças saneadas, inclusive com ações da Petrobras em caixa; ele, contudo, sem patrimônio e sem dinheiro no banco, mudou-se com a esposa e os quatro filhos à época para a casa do seu pai, Wilson Porto, por não ter condições de pagar aluguel.

Vereador por dois mandatos, de 1993-1996 e de 1997-2000, exerceu-os com dignidade e elevado espírito público.

Giovanni escreveu dois livros de crônicas, “Estação das Lembranças” e “Exercício de Memória”, de inegável qualidade literária e de elevado valor histórico.

Muito pouco se escreveu sobre Giovanni, comparado com o legado deixado por esse titânico homem público sertanejo. Muito, contudo, poderá ainda se escrever, se não faltarem ao valoroso povo arcoverdense e aos seus certamente talentosos cronistas e pesquisadores: brio, coragem, memória e amor à nossa terra.

Encerro com uma quadra feita há muitos anos atrás por um eleitor/admirador seu (filho de Heroíno, da Pedra), que meu pai, mesmo em meio ao sofrimento decorrente de suas enfermidades, recitava de cor, com lágrima nos olhos:

Da Folha das cidades.

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